Nascido em Caruaru/PE, Salatiel D'Camarão é músico profissional (cantor, percussionista, pianista) desde 1987 e há quatro anos começou a seguir carreira solo. Filho do grande sanfoneiro Mestre Camarão, já lançou dois cds: "Estrada da vida", de 2008, e "Seguindo meus passos", de 2011, em parceria com seu pai. Defensor do forró autêntico, Salatiel vem se destacando pelo seu excelente trabalho e pelos shows que vem fazendo ao lado de Camarão. Também é pesquisador e professor de História da Música, e dentre seus projetos está o lançamento de um livro sobre a história do forró.
Salatiel aparece no Programa Ralabucho nº 09, cantando "Eu e Mariquita", de Patrício Sanfoneiro, mas diversas músicas suas estão disponibilizadas no endereço http://soundcloud.com/search?q%5Bfulltext%5D=salatiel+d%27+camar%C3%A3o. O blog do músico é http://salatielcamarao.blogspot.com.
No bate papo conosco, Salatiel fala um pouco da sua convivência com grandes nomes do forró, a relação profissional com seu pai, do seu novo disco, do seu livro etc. Confiram:
Programa Ralabucho - Salatiel, você é músico há mais de 20 anos, tendo se profissionalizado muito cedo, no entanto, apenas há 4 anos decidiu seguir carreira solo. O que o levou a essa mudança?
Salatiel D'Camarão - Bom, tudo começou em Natal/RN onde passei um tempo lá tocando com a Orquestra Baile Garcia, e nas folgas eu, o percussionista e o tecladista que também toca sanfona, começamos a fazer na brincadeira um forró em um bar próximo da casa que morávamos. Eu mostrava como alguns amigos cantavam, e então imitava Lindú, Luiz Gonzaga, Genival Lacerda etc. O bar começou a dar gente e fomos contratados por eles.
Salatiel D'Camarão - Bom, tudo começou em Natal/RN onde passei um tempo lá tocando com a Orquestra Baile Garcia, e nas folgas eu, o percussionista e o tecladista que também toca sanfona, começamos a fazer na brincadeira um forró em um bar próximo da casa que morávamos. Eu mostrava como alguns amigos cantavam, e então imitava Lindú, Luiz Gonzaga, Genival Lacerda etc. O bar começou a dar gente e fomos contratados por eles.
Programa Ralabucho - Desde sua profissionalização, você já trabalhou com diversos nomes da música brasileira, como Dominguinhos, Genival Lacerda, Marinês, Hermeto Pascoal, Luiz Gonzaga etc. Como foi seu contato com Gonzagão? E, além dele, quem mais te impressionou nesse tempo todo?
Salatiel D'Camarão - Bem, algum tempo atrás tinha uma coisa chamada caravana, que hoje tem o nome de turnê, e muita gente ficava lá em casa ou, quando passava em Caruaru, ia lá ver meu pai. Com o Sr. Luiz, eu sempre ia almoçar ao lado dele e de meu pai, e também ia nas festas de seu aniversário que ele promovia em Exu, na sua fazenda. Naquela época, Gonzaga para mim era um amigo de meu pai que era legal comigo. Outro amigo que eu gostava era Lindu, do Trio Nordestino. Ele sempre chegava sorrindo e fazia a maior festa comigo. Já o Cobrinha enchia meu saco, pois sabia que eu era invocado e ficava brincando comigo. Eu, pequeno, ficava brabo e chutava a perna dele, enquanto ele sorria muito.
Programa Ralabucho - Seu pai, o Mestre Camarão, é, sem dúvida, um dos maiores acordeonistas do Brasil e do mundo. Ele o incentivou desde cedo a ser músico ou foi uma escolha natural sua? E qual é a influência do estilo dele na sua obra?
Salatiel D'Camarão - Como lhe falei, eu cresci vendo grandes artistas tocando dentro da minha casa, meu pai ensaiava com a banda e eu ficava brincando de boneco ali. Ia a algumas festas com meu pai - que é um costume desde meu avô com ele - então não tinha como ser outra coisa. Meu pai é meu mestre, meu professor e meu amigo. Tudo que sou hoje devo aos meus pais.
Programa Ralabucho - Como é a relação de vocês profissionalmente? Ele te dá opiniões, sugere músicas, ou deixa você decidir à vontade?
Salatiel D'Camarão - Existe uma cumplicidade muito grande entre nós, respeito muito sua opinião, contudo, em algumas coisas temos gostos diferentes. Entretanto, só tocamos alguma música se os dois sentirem-na de verdade.
Programa Ralabucho - Além de cantar, você toca instrumentos de percussão e piano. Não tentou seguir a carreira do seu pai como acordeonista?
Salatiel D'Camarão - O instrumento é quem te escolhe, não é você. Gosto muito de sanfona, mas não é para o meu bico, apesar de meu pai não concordar com isso. Ainda hoje ele peleja para eu trocar o piano pela sanfona (risos).
Programa Ralabucho - Agora vamos falar do seu novo trabalho, o 2º cd, de título “Seguindo meus passos”, em parceria com Camarão. Eu ouvi algumas músicas e posso dizer que são muito boas. Fale um pouco desse disco, das canções e o que achou do resultado.
Salatiel D'Camarão - Esse disco é uma reverência ao meu pai como instrumentista, letrista e compositor. Nele, tem algumas músicas que são regravações suas de discos antigos. Não me considero um cantor, acredito que represento minha cultura com a alma expressada por uma voz rústica como o sertão, forte como a fé de meu povo e com o linguajar da minha terra. Hoje vejo os cantores classificados como populares usando técnicas que não pertencem aos nossos gêneros, perdendo assim a sua identidade. O resultado que eu queria é que o disco tivesse uma cara bem raiz. E acho que consegui.
Programa Ralabucho - E o 1º disco ("Estrada da vida"), lançado em 2008? Quais as diferenças entre os dois trabalhos?
Salatiel D'Camarão - A diferença em si é o amadurecimento que hoje estou vivendo.
Programa Ralabucho - Outra novidade é o dvd do Mestre Camarão, que já foi gravado e está em fase de edição, contando com a participação de diversos forrozeiros, como Jorge de Altinho, Elba Ramalho, Santanna e você. Como foi participar desse trabalho ao vivo com seu pai? Qual a previsão de lançamento?
Salatiel D'Camarão - Esse trabalho primeiramente será um especial da Globo nordeste em dezembro, que passará em 120 países. Depois serão captados recursos para a finalização do dvd. Acredito que no minimo só no ano que vem.
Pra mim foi um registro muito importante da obra do mestre Camarão. Fiquei muito feliz em fazer parte da história desse patrimônio da música popular brasileira.
Programa Ralabucho - Como foram os shows da turnê "Seguindo meus passos" no período junino e como está a agenda para o restante do ano?
Salatiel D'Camarão - Foram bons, fizemos 12 cidades: Salgueiro, Caruaru, Recife, Garanhuns, Camocim de São Félix, Pesqueira, Aliança, Teresina (Piauí) Bezerros, Triunfo, Brejo da Madre de Deus e Olinda. Dentro desta temporada do projeto ainda teremos duas cidades, contudo não fomos informados quais são.
Programa Ralabucho - Salatiel, além de cantor e instrumentista, você também é professor de História da Música e pesquisador, inclusive está escrevendo um livro sobre a história do forró. Como esse trabalho está sendo feito, quais temas serão abordados na pesquisa e qual a previsão de lançamento?
Salatiel D'Camarão - Este trabalho tem o objetivo de abordar historicamente alguns gêneros e subgêneros da música popular nordestina, que são classificados como estilo “Forró pé de serra”. São eles: o baião, o xaxado, a marcha junina, o xote e o forró, que outrora já eram vistos como gêneros da música popular brasileira e que, apesar de terem contribuído muito para a cultura do nosso país, são vistos com descaso perante os registros históricos musicais. Venho percebendo que existem muitos materiais falando sobre nossa cultura, contudo, de uma maneira confusa e equivocada.
A minha preocupação, não só como pesquisador, músico e cantor, é que a história real seja preservada. Pessoas como Câmara Cascudo, Dominique Dreyfus, Tárik de Souza, entre outros, têm fundamental importância porque nos presentearam com registros importantíssimos sobre fatos históricos do estilo musical pé de serra e dos criadores. Contudo, registros sobre técnicas aplicadas, sobre percepções rítmicas executadas, influências musicais, nada temos de material didático, nem nas escolas, nem nos conservatórios, nem nas universidades. Buscaremos explicar sobre a origem do nome dos gêneros musicais e sobre o estilo ao qual eles pertencem. Também falaremos sobre as influências rítmicas, melódicas e harmônicas, através dos materiais fonográficos existentes e do conhecimento que adquiri pela convivência junto a alguns dos mestres destes ritmos. Ainda mostraremos relatos de pioneiros dos gêneros. Acredito que esse trabalho será lançado ano que vem.
Programa Ralabucho - Pra encerrar o bate papo, cite 5 músicas que não podem faltar em nenhum forró!
Salatiel D'Camarão - São tantos clássicos que fica difícil, mas há algumas músicas que quando tocamos o povo logo responde. Elas são: "O xote das meninas", "Sabiá", "Cintura fina", "Sala de reboco" e "Olha por céu" (todas do repertório de Luiz Gonzaga).