segunda-feira, 27 de setembro de 2021

MARINALVA E SUA GENTE

 


MARINALVA E SUA GENTE

Por Érico Sátiro






          Campina Grande, 1948. Dona Donzinha cuida em casa de sua filha Maria, nascida às vésperas das festas juninas. Enquanto acalentava a então caçula e cuidava dos outros pequenos, a mãe ouvia a filha mais velha, Inês, pedir autorização ao pai para ir ao cinema com o irmão Ademar. Com o consentimento de Seu Manoel, Inês saía de casa com o irmão, mas não para ir ao cinema, e sim à rádio fazer o que mais gostava: cantar. Escapando da rigidez do pai, que não queria saber de cantora na família, assim surgiu o talento de Inês, que se tornou a famosa artista Marinês, a “Rainha do Xaxado”. O que Seu Manoel não esperava era que, além de Marinês, ele teria outra filha cantora, Maria, o bebê que estava em casa com a mãe enquanto a irmã dava seus primeiros passos na música. Mais tarde, ela ficaria conhecida como Marinalva.


        O surgimento musical das irmãs não foi fácil. O universo dos cantores nordestinos, desde o seu início, foi dominado pelos homens, assim como na grande maioria das classes trabalhadoras brasileiras do século passado. Eram muitos “reis” para poucas “rainhas”. Devagarzinho, no entanto, e superando preconceitos, elas começaram a surgir. Carmélia Alves, Marinês, Anastácia, Hermelinda, Clemilda e Elba Ramalho são algumas que constam em qualquer lista de mulheres forrozeiras, com seus baiões, xotes e xaxados, entre outros ritmos. Marinalva, apesar do grande talento, vem sendo injustamente esquecida, tanto que não há praticamente nada sobre ela em livros ou mesmo em textos na internet (os poucos que existem trazem informações desencontradas).

       

        Ao contrário da irmã mais famosa, que era natural de São Vicente Ferrer/PE, Marinalva (Maria Caetano de Oliveira) nasceu em Campina Grande/PB em 10/06/19481, sexta dos nove filhos (quatro homens e cinco mulheres) de Seu Manoel (Manoel Caetano de Oliveira), mecânico e armeiro, e de Dona Donzinha (Josefa Maria de Oliveira). Em Campina, cresceu nos bairros Liberdade e Quarenta e, curiosamente, era chamada pelos parentes próximos por outro nome. “A gente a chamava de Consuelo ou de Maria Consuelo. A origem do apelido eu não sei não. Depois foi que ficou Marinalva mesmo”, explica o irmão Sussuanil, zabumbeiro, que atualmente reside no Rio de Janeiro/RJ e ainda atua em forrós junto com seu irmão Lourival (ambos tocaram muito tempo com Marinês). O apelido definitivo – Marinalva – só viria no início da carreira profissional, por sugestão do músico e produtor Abdias, então marido de Marinês, referência clara para o surgimento desse nome artístico (o “e sua gente”, acrescentado a Marinês por ideia de Chacrinha, também foi incorporado por Marinalva).


        Não tendo encontrado, por parte de seu pai, a mesma resistência sofrida pela irmã mais velha para iniciar na música, a caminhada de Marinalva como cantora surgiu quando ela tinha cerca de 14 anos de idade, em programas de calouros, onde interpretava canções não apenas de forró, mas também de outros estilos, a exemplo de músicas do repertório de Ângela Maria. A carreira profissional se iniciou por volta de 1966, já sob o nome artístico de Marinalva e Sua Gente, fazendo apresentações em locais como circos, cinemas e rádios de Campina Grande e de outras cidades, como Recife, onde, naquele ano, foi uma das atrações do programa de auditório Comandos da Alegria, da Rádio Clube, em quadro que divulgava novos artistas. Foi uma das primeiras forrozeiras paraibanas a se destacar no cenário da música nordestina.



Década de 70


        Seu primeiro disco veio em 1970, com o título Eu também sou de lá, lançado pelo selo Maraca, com destaque para faixas como “Jacaré dos Homens” (Elino Julião) e “O solteirão” (J. Cavalcante/Antônio dos Passos), que foi gravada no mesmo ano por Jackson do Pandeiro. Na canção que dá nome ao disco, de autoria de João Silva e J. B. De Aquino, a cantora se apresenta: “Nasci pra cantar/essa é minha sina/eu também sou de Campina/também quero xaxear”. Após ao lançamento do primeiro LP, Marinalva começou a ser convidada a participar de coletâneas diversas, inclusive assinando algumas canções. Os principais discos foram O fino da roça – vol. 3 (1971), Quermesse (1971), O fino da roça – vol. 4 (1972), Quermesse – vol. 2 (1972) e Fogo na geringonça – vol. 2 (1972), que incluíam músicas da cantora e de nomes como Zé Calixto, Antônio Barros, Messias Holanda e Genival Lacerda, amigo e conterrâneo que muito ajudou a cantora nesse período. Mas foi a partir de 1974 que a paraibana começou a criar discos mais marcantes. Em Poeira do Caminho (1974), gravado em São Paulo sob direção de Pedro Sertanejo, Marinalva mostrou sua qualidade com um bom repertório. Músicas como “Enquanto há vida, há esperança” (Antônio Penha/Wanderley Silva), “Eu vim de longe” e “O bom do xaxado” (ambas de Joca de Castro/Genival Lacerda) mostram a evolução da intérprete. Outro destaque, a toada “Poeira do caminho” (Joca de Castro/Genival Lacerda) apresenta uma das temáticas preferidas da cantora: o Nordeste, com suas belezas, seu povo, seus dramas e problemas.


        Os outros dois álbuns gravados por Marinalva nos anos 70 comprovam que a década representou, musicalmente, a melhor fase de sua carreira, principalmente pela poesia nordestina contida em diversas letras. Com produção de Jackson do Pandeiro, a cantora lançou pela Chantecler/Alvorada os LPs Viva o Nordeste (1977) e Tardes Nordestinas (1978). Pra quem conhece a obra de Jackson, fica fácil perceber a semelhança na sonoridade desses discos com outros gravados ou dirigidos por ele naquela época, a exemplo de O Rei do Coco, do pernambucano Bezerra da Silva. Nesses álbuns de Marinalva, a cozinha percussiva do Rei do Ritmo é bem perceptível em faixas como “Vou me incendiar” (Raymundo Evangelista/J. B. de Aquino), “Retirante, não” (João Silva/J. B. De Aquino), “Eu vou pra Bahia” (Alba), “Chuva caiu” (Cecéu) e “Chega pra lá meu bem” (Ignácio Virgulino/Marinalva). “Tarde nordestina” (no singular, ao contrário do título do LP), de autoria de D. Matias e Naldinho, tornou-se o principal sucesso da carreira de Marinalva.


        No mesmo período, participou, com duas músicas, da coletânea Canjica, pamonha e rojão (1977), da qual também faziam parte Jackson do Pandeiro (como produtor e intérprete), Severo, Manezinho Silva, Alventino Cavalcanti e Haroldo Francisco (Kojak do Forró).


Duplo sentido e década de 80


        O forró com letras de duplo sentido, popularizado na década de 70 por Genival Lacerda e seguido por artistas como Messias Holanda e Zenilton, tornou-se praticamente uma preferência nos anos 80 por parte das gravadoras, que lucravam bastante com a boa venda de discos que exploravam o tema. Sandro Becker, Zé Duarte e Clemilda, a partir da primeira metade da década, juntaram-se aos principais nomes do gênero gravando músicas apimentadas, mas antes do sucesso desses três Marinalva já começava a acrescentar em seu repertório o duplo sentido. O LP De rolha na boca (1980) trouxe a temática escancarada no próprio título, retirado da faixa homônima de autoria do cantor e compositor João Gonçalves, mestre no estilo, em parceria com Micena do Icó. Não se pode dizer, entretanto, que Marinalva tenha feito discos de duplo sentido, pois, apesar de quase todos os seus LPs seguintes possuírem músicas com letras do gênero, elas nunca chegaram a predominar no repertório – eram, no máximo, duas ou três por disco.


        Mesmo tendo gravado canções de sentido dúbio, Marinalva parecia não se sentir muito à vontade com a temática. Em 1991, ao saber que sua gravação de “Tarde nordestina” havia sido escolhida para integrar a coletânea Brazil Classics 3 – Forró etc., produzida principalmente para o mercado internacional pelo músico David Byrne, ex-líder da banda norte-americana Talking Heads, a cantora demonstrou alívio: “É muito bonita. Fala das coisas do Nordeste, do sofrimento dessa gente do sertão. Ainda bem que não foi daquelas indecentes, de duplo sentido”, declarou2. No encarte do CD, o texto assinado pelos professores, escritores e estudiosos de música Larry Crook e Charles A. Perrone destaca que Marinalva costumava fazer “canções tipicamente nostálgicas como Tarde Nordestina”. Moda na época, o duplo sentido acabou sendo responsável pelo maior sucesso de Marinalva naquele período: “Forró na Bica” (João Gonçalves/Marinalva), regravada em 1986 por Sandro Becker.


        “Forró na bica” fazia parte do disco Um bom forró, que sucedeu Cheguei (último álbum com o ex-marido e sanfoneiro Zezinho, lançado em 1983), e que marcou uma mudança no som da forrozeira. A partir da parceria com seu marido Aracílio Araújo, houve uma “acelerada” em geral nas músicas, que ficaram mais dançantes, trazendo o álbum Um bom forró arranjos de sanfona mais ariscos, principalmente em faixas como “Um bom forró” (João Gonçalves/Marques Irmão), “Quero me divertir” (Aracílio/Marinalva/Calisto Moreira), “A noite é minha” (Aracílio/Marinalva) e “No cheiro de forró” (Aracílio/Marinalva) – esta última regravada por Flávio José em 1991. Foi o primeiro trabalho de Marinalva com Aracílio Araújo e também com Quartinha (zabumba), que permaneceu trabalhando com ela por vários anos. “Marinalva cantava muito. Muito, muito mesmo. Era um Luiz Gonzaga de saia. No palco ela ia pra lá, pra cá, como Elba Ramalho. Além de grande artista, era uma pessoa muito legal, era minha amiga e comadre”, comenta o zabumbeiro, destacando a energia da intérprete em suas apresentações.


        Após Um bom forró, a paraibana lançou Enxugue o rato (1986), que trazia a versão cantada para a faixa-título de Luiz Moreno, com participação de Abdias. O disco foi gravado no Rio de Janeiro e contou com Marcos Farias, músico, produtor e maestro, filho de Marinês, na produção (junto com seu pai Abdias) e nos arranjos. Na sequência, veio o disco Marinalva e sua gente (1987), seu melhor e mais animado trabalho dessa fase (junto com Um bom forró). Seguindo o exemplo de nomes como Jorge de Altinho e Nando Cordel, Marinalva e sua gente contou com a inserção de metais em faixas como a regravação de “Jacaré dos Homens” (Elino Julião) e o pot-pourri de abertura com “Saudade de Campina Grande” (Rosil Cavalcanti), “Não dá pé” (Cecéu)3 e “É tempo de voltar” (Dominguinhos/Anastácia), músicas anteriormente gravadas por Marinês. Esse pot-pourri inclusive foi utilizado pela cantora na apresentação, em rede nacional, no programa Clube do Bolinha, da TV Bandeirantes. Marinalva e sua gente foi o último disco gravado na década pela artista, que também realizou trabalhos em álbuns de outros músicos, como no LP Merengue dela (1986) de Arlindo dos 8 Baixos, onde tocou triângulo e atuou como assistente de produção, e no LP Bom pra forrozar (1989), de Duda da Passira, cantando em uma faixa.


        Foi também na década de 80 que Marinalva viu crescer sua popularidade no Nordeste. Era convidada frequentemente para programas locais de televisão, em canais como a TV Tupi de Recife, a TV Jornal do Commercio (Rede Bandeirantes) e TV Universitária. A agenda de shows também era cheia, com apresentações em diversas cidades nordestinas, sendo anunciada como uma das maiores atrações de grandes festividades. Os anúncios e notícias abaixo comprovam que Marinalva era uma das principais cantoras nordestinas do período:





Anúncio do ano de 1989 (Diário de Pernambuco).






Anúncio do ano de 1983 (Diário de Pernambuco).








Notícias de 28/06/1983 e 24/05/1989, respectivamente (Diário de Pernambuco).



Final da carreira



        1990 foi o ano de lançamento do LP Pra lá de bom, lançado pela Polydisc, com praticamente todas as músicas assinadas por Aracílio Araújo (com parcerias), além de “Pescador Potoqueiro” (João Silva/Messias Holanda) e “Os pernilongos” (João Gonçalves/Marinalva), ambas de duplo sentido. No ano seguinte participou do LP Daquele jeito, do cantor Agamenon Show, cantando em uma das faixas. Em 1992 veio Coração teimoso, último disco da cantora, que trouxe as versões de “Resto de amor” (Cecéu) e “A separação” (Jorge de Altinho/Feliz Barros/Gisa Rocha), sucessos com o Trio Nordestino, além da regravação de “Tarde Nordestina” (D. Matias/Naldinho). Com arranjos do acordeonista Severo, o disco mostra a cantora em plena forma, principalmente em “Coração teimoso” (João Silva), comprovando que seu talento poderia proporcionar ainda, por muitos anos, outras grandes interpretações.


        As apresentações musicais de Marinalva, que àquela época normalmente contavam também com seu marido Aracílio Araújo (triângulo), Quartinha (zabumba) e Cicinho (sanfona), duraram até por volta de 1993, quando a cantora começou a enfrentar problemas de saúde. Diabética, chegou a perder parte de um dos pés, dificultando sua locomoção, especialmente em viagens. “A gente fazia muitos shows em Pernambuco e também na Bahia. Por questões de saúde, ficou difícil pra ela continuar”, relembra Aracílio. A partir daí, Marinalva passou a se dedicar apenas ao lar, atuando esporadicamente em gravações de outros artistas, como no coro de discos de Aracílio Araújo e Santanna (ainda se apresentando como Luís de Santana), e no dueto com Ivan Ferraz em “Mané e Zabé” (Zé Dantas/Luiz Gonzaga), música que marcou a carreira de Marinês por ter sido sua primeira gravação, em 1956, cantando com Luiz Gonzaga. Em 1998 Marinalva ainda participou da décima edição do festival Forró Fest, organizado anualmente pelas TVs Cabo Branco (João Pessoa) e Paraíba (Campina Grande). Na ocasião, interpretou a canção “Mulher forrozeira”, de Aracílio Araújo, ficando com o 3ª lugar no concurso. “Ela recebeu uma sanfona avaliada em dez mil reais como prêmio”, recorda-se, com orgulho, o compositor. A música, assim como as demais finalistas, ganhou versão de estúdio, registrada no CD Forró Fest 10 anos.


        Nos anos 2000, Marinalva continuou sofrendo com problemas de saúde em consequência da diabetes e praticamente não atuou artisticamente. Em 11/09/2004, por complicações decorrentes de um AVC sofrido poucos dias antes, faleceu, aos 56 anos, na cidade de Recife/PE.


Vida familiar


        Não foi somente junto aos seus irmãos que Marinalva teve influência artística. Nos seus casamentos, a paraibana sempre se relacionou com pessoas ligadas à arte. Ainda muito jovem, em uma de suas apresentações Marinalva conheceu o artista circense Arlindo Fernandes, com quem teve seu primeiro filho, Ricardo, nascido em 1965. Pouco tempo depois, separou-se de Arlindo e passou a viver com o sanfoneiro conhecido como Gonzaguinha (que inclusive gravava com ela e tocava nos shows), com quem permaneceu cerca de cinco anos e teve o filho Ronaldo, em 1971. Logo após o nascimento de Ronaldo, no entanto, a união com Gonzaguinha foi desfeita, tanto que o garoto foi criado e registrado pelo marido seguinte de sua mãe, Zezinho (José Bernardo Filho), também acordeonista e que permaneceu com Marinalva até por volta de 1983. Zezinho também atuava artisticamente com ela nas apresentações e em vários discos – o último foi Cheguei. Com ele, a forrozeira teve duas filhas, Jussara (1978) e Janaína Maria (adotiva). Já separado de Marinalva, Zezinho, também conhecido como Zezinho do Acordeon ou Zezinho da Paraíba, destacou-se nos anos 90 na banda Mastruz com Leite, tocando por vários anos no famoso grupo. Desde aquela década radicou-se em Fortaleza/CE, onde também gravou alguns CDs em carreira solo.


        Após a separação com Zezinho, Marinalva teve como marido o cantor e compositor Aracílio Araújo, com quem foi casada até o final de sua vida. Aracílio, que possui 8 CDs gravados, teve várias composições interpretadas também por diversos outros artistas, como Alceu Valença, Elba Ramalho, Fagner, Marinês, Adelmário Coelho e Flávio José. É dele a canção “Deixe o rio desaguar” (também gravada por Félix Porfírio e Flávio José, entre outros), que se tornou uma espécie de hino da transposição do rio São Francisco. Foi fundamental na carreira da esposa, atuando nos discos (desde Um bom forró até Coração teimoso) e compondo diversas canções que fizeram parte do repertório dela. O casal teve os filhos Marcílio (1985) e Marcelino (por adoção). Marcílio (zabumba e vocal) e seu irmão Ronaldo (sanfona), aliás, seguiram os passos dos pais e são músicos em Olinda, onde atuam há mais de 10 anos na banda Forró sem Fronteiras.


        Em relação às cidades onde residiu, Marinalva, além de Campina Grande/PB, morou em João Pessoa/PB e também, por curtos períodos, no Rio de Janeiro/RJ, Salvador/BA e Aracaju/SE. Nos anos 80 mudou-se definitivamente para Olinda/PE, sua última cidade.


Discografia


        Para a pesquisa sobre a discografia de Marinalva, foram consultados diversos sites de música (principalmente o Forró em Vinil) e de comércio de discos, bem como jornais e acervos de colecionadores, sendo encontrados 11 LPs solo e 11 participações em coletâneas (6 delas com músicas inéditas e outras 5 com fonogramas extraídos de discos anteriores). O total de gravações, incluindo duetos em discos de outros artistas, foi de 140. Dessas, assinou como compositora, com parcerias, em 25. Teve também uma composição gravada por Arlindo dos 8 Baixos (mas não gravada por ela), totalizando 26 composições, várias delas com o marido Aracílio Araújo, que explicou que, na verdade, o processo de criação não passava pela esposa: ele fazia a canção sozinho e registrava o nome dela como co-autora. Todos esses números, entretanto, podem ser maiores, tendo em vista a escassez de fontes disponíveis para consulta.


        Dos discos individuais relacionados abaixo, somente o Pra lá de bom, atualmente, não está disponível para audição nas plataformas digitais de streaming. Todos os demais, bem como algumas coletâneas, podem ser encontrados:


Discos solo

Eu também sou de lá (1970, Maraca)

Poeira do caminho (1974, CBS/Tropicana)

Viva o Nordeste (1977, Chantecler/Alvorada)

Tardes nordestinas (1978, Chantecler/Alvorada)

De rolha na boca (1980, Rozenblit)

Cheguei (1983, Rozenblit)

Um bom forró (Palco)4

Enxugue o rato (1986, Polygram/Memória)

Marinalva e sua gente (1987, Polydisc)

Pra lá de bom (1990, Polydisc)

Coração teimoso (1992, Somarj)




Coletâneas

O fino da roça vol. 3 (1971, Fontana)

Quermesse (1971, Fontana)

O fino da roça vol. 4 (1972, Fontana)

Quermesse vol. 2 (1972, Fontana)*

Fogo na geringonça vol. 2 (1972, Fontana)

Forró (1976, Phonogram/Polyfar)*

Canjica, pamonha, rojão (1977, Chantecler/Alvorada)

O fino do fino da roça (1979, Polygram/Sinter)*

O fino do fino da roça vol. 2 (1980, Polygram/Sinter)*

Puxando fogo (1985, Polygram/Sinter)*

Forró fest 10 anos (1998)

* Discos sem canções inéditas de Marinalva.



A falta de reconhecimento



        Ótimos discos, mais de 20 anos de carreira, participação em várias coletâneas e uma boa popularidade no Nordeste no período em que atuou. Isso tudo, porém, não foi suficiente para que o nome de Marinalva se tornasse conhecido nacionalmente. Mesmo quem não conhece muito bem a música nordestina certamente sabe quem é Marinês, mas, provavelmente, nunca ouviu falar em Marinalva. Alguns motivos podem explicar o fato. Primeiramente, ela surgiu artisticamente em um período em que o forró, ofuscado por gêneros diversos, era pouco valorizado fora da região nordestina. Segundo, porque lhe faltou uma melhor estrutura de apoio na carreira, um empresário ou gravadoras que investissem mais no seu talento. “Marinalva cantava muito bem. Tinha uma voz linda, afinada, mas não tinha uma boa estrutura em volta dela. Não tinha o tirocínio artístico da irmã, por exemplo. Era um pouco desorganizada. Somente nos anos 80 é que as coisas se ajeitaram mais”, opina Aracílio Araújo, viúvo da cantora, a respeito do assunto. Além desses fatores, faltou também a Marinalva uma música que estourasse nas rádios de todo o país, como aconteceu com “Severina Xique-Xique” (João Gonçalves/Genival Lacerda) e “Prenda o Tadeu” (Antônio Sima/Clemilda), sucessos com Genival Lacerda e Clemilda, respectivamente. Essa lacuna pode ser explicada pela falta de um empenho maior por parte das gravadoras junto à mídia ou mesmo por não ter tido uma maior sorte.


        O jornalista e escritor Luís Antônio Giron, em texto publicado em 1991 na Folha de São Paulo sobre o já mencionado CD Brazil Classics 3 – Forró etc.5, ao mesmo tempo em que elogia a cantora por sua interpretação de “Tarde nordestina”, sugere que a falta de sucesso da paraibana no sul se devia a sua “estigmatização pela baixa qualidade de seu repertório”, comparando-a a Clemilda. Certamente se referia às composições de duplo sentido, demonstrando desconhecer o trabalho em geral de Marinalva, já que menos de 10% das canções gravadas por ela tinham letras maliciosas.


         A respeito de ter sido irmã de uma cantora já famosa, claro que o fato já lhe servia como um bom cartão de visitas, mas, no geral, o parentesco não foi fundamental em sua carreira. “Marinalva não gostava de explorar o fato de ser irmã de Marinês, não ficava usando isso para se promover, tinha uma carreira independente. Pode escutar todos os discos de Marinês. Você não vai encontrar sequer uma participação de Marinalva”, explica Aracílio Araújo.


        Todos esses aspectos abordados, no entanto, não justificam o esquecimento sobre a cantora no Nordeste, principalmente em Pernambuco, onde ela desenvolveu boa parte da carreira, e em sua terra natal. A Paraíba, berço de grandes nomes do forró como Jackson do Pandeiro e Sivuca, normalmente reconhece a importância de seus valores artísticos, mas praticamente não se fala, não se escreve e não se toca Marinalva. Até mesmo em Campina Grande seu nome é pouco citado. O Forró Fest e o Troféu Gonzagão, eventos sobre a música nordestina realizados anualmente no estado e que já homenagearam inúmeros paraibanos, nunca lembraram de Marinalva. Logicamente, pelo que representou, é normal que Marinês, um dos grandes pilares da história do forró, seja bem mais mencionada, mas Marinalva também merece ter seu destaque. Nunca é tarde para a arte, para que as novas gerações (re)descubram valores do passado. E, quem sabe, essa redenção não se inicie pela Paraíba – e sua gente?









1Oficialmente, a data de nascimento de Marinalva, constante em certidão de registro, é 10/02/1948, mas a cantora também possuía documentos com a data de 10/06/1948. Em razão do testemunho de seus familiares, que confirmaram que o aniversário dela era comemorado em 10/06, presume-se que houve um erro quanto ao mês em sua certidão de nascimento.

2Matéria “Forró a laser agita o mercado americano”. Jornal do Brasil, 15/06/1991.

3A versão de Marinês foi gravada em 1971 com o título “Desse jeito não dá pé” e autoria atribuída a Antônio Barros.

4Não foram encontrados registros a respeito do ano de gravação/lançamento. Pelos depoimentos colhidos, o disco provavelmente foi lançado em 1985.

5Matéria “David Byrne acha que o forró é uma mistura de ska com polca”, Folha de São Paulo, 19/06/1991.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Forró pra gringo ouvir



Forró pra gringo ouvir*
  

Por Érico Sátiro



No final de 2016, uma lista de suas músicas preferidas para praticar atividades físicas, divulgada pelo ex-presidente dos EUA Barack Obama, tornou-se notícia no Brasil por uma inclusão inusitada: a faixa “Perro Loco”, da banda Forro in The Dark, grupo formado em Nova York no ano de 2002, por três brasileiros lá radicados, e que mistura ao forró elementos da música pop, como a adição de guitarras e saxofones. Será então que o nosso forró definitivamente se popularizou no exterior? Ainda não tanto, até porque “Perro Loco” não é exatamente uma canção de forró tradicional, porém, isso não quer dizer que o ritmo nordestino não tenha uma boa aceitação em terras estrangeiras. Muito pelo contrário, basta perceber o sucesso que os músicos do estilo conseguem ao realizar turnês em outros países, em especial na Europa. Além disso, assim como o Forro in The Dark, há outros grupos formados no exterior explorando o forró, a exemplo do Matuto, também nos Estados Unidos, e o Bel Air de Forro, na França, o que ajuda a difundir o gênero ao redor do mundo.
A admiração do público e da crítica estrangeira é grande ao ponto de haver determinados discos de música nordestina que foram lançados exclusivamente no exterior, até mesmo de artistas consagrados no estilo. Sivuca, Oswaldinho, Dominguinhos, Camarão e João do Vale são exemplos de músicos brasileiros que tiveram álbuns lançados ou reeditados somente no exterior. Há algum tempo, não havia alternativa ao público brasileiro para escutar tais discos, senão comprá-los em outros continentes. Com o advento da internet, surgiu a oportunidade de importá-los através de lojas online ou “baixar” os arquivos por meio de sites de compartilhamento. Atualmente, embora ainda exista a possibilidade de adquiri-los em sites estrangeiros de cds, pode-se ouvir a maioria desses álbuns em plataformas de streaming como Spotity ou Deezer. O reconhecimento do público estrangeiro ao valor do forró não é novidade, mas a existência desses discos é mais uma mostra, em tempos de invasão do “breganejo” e dos “forrós de plástico” nas festas juninas, que a autêntica música nordestina nunca vai acabar. Confiram abaixo alguns desses cds que foram lançados ou reeditados somente no exterior:


 Forró Novo – Oswaldinho (1997) – Com apresentações e participações em festivais em diversas partes do mundo, o acordeonista Oswaldinho, conhecido por explorar ritmos como jazz, rock, blues e até o erudito em seus discos, lançou na Alemanha, pelo selo Piranha´s, o seu disco mais nordestino da carreira, utilizando apenas sanfona, triângulo e zabumba. São 13 faixas instrumentais gravadas pelo filho do forrozeiro Pedro Sertanejo, mesclando canções de sua autoria com clássicos de Luiz Gonzaga e Dominguinhos, em um dos melhores álbuns de sua discografia.



  Accordeon do Brasil - Julinho do Acordeon (1992) – o acordeonista e maestro cearense João Aguiar Sampaio, o Julinho, falecido em 2008, é autor de canções como “De Juazeiro a Crato” (Julinho/Luiz Gonzaga), “Dengo maior” (Humberto Teixeira/Julinho) e “Carapeba” (Julinho/Luiz Bandeira), todas gravadas por Luiz Gonzaga, além de “Magoada” (Julinho/João do Vale), interpretada por Clara Nunes, e da instrumental “Baiãozinho bom” (Julinho/Evaldo Gouveia), uma de suas composições mais conhecidas. Exímio instrumentista, Julinho também se apresentou em vários países e gravou diversos LPs em sua carreira, além desse cd lançado na França, em 1992, pelo selo Kardum. No encarte, texto escrito pela francesa Dominique Dreyfus, biógrafa de Luiz Gonzaga.


  Camarão plays forró – Camarão (1998) – Reginaldo Alves Ferreira, o Camarão, falecido em 2015, recebeu em 2003 o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco, o que demonstra a importância do sanfoneiro para a cultura do seu Estado. Dono de um estilo próprio de tocar acordeon, o músico gravou em 1995, no Recife, as músicas do cd Camarão plays Forró, lançado somente na Europa, em 1998, pelo selo Nimbus, da Inglaterra. Com capa extraída de tela da artista plástica Isa Galindo, o cd, com interpretações no autêntico estilo pé de serra, traz ainda o também falecido Arlindo dos 8 
Baixos em quatro faixas, além de contar com a participação da cantora Joana Angélica nos vocais.


     Brazil: Forró – Music for maids and taxi drivers (1990) – Apesar de ter uma versão lançada no Brasil, esse disco não poderia faltar na lista. Em 1981, o produtor e músico pernambucano Zé da Flauta gravou, em condições estruturais improvisadas e experimentais, duas fitas com músicas de Toinho de Alagoas e Duda da Passira, autênticos representantes do forró. Após vendê-las para a Visom Digital, recebeu o pedido de mais duas fitas, que foram gravadas com Heleno dos 8 Baixos e José Orlando, em 1982. Vários anos depois, os quatro discos foram compilados e lançados nos Estados Unidos e Europa com o título de “Brasil: Forró – Music for maids and taxi drivers”. O sucesso foi tão grande que, além de ter recebido um prêmio na Inglaterra de melhor capa de cd internacional, em 1990, pela xilogravura de Marcelo Soares, o disco foi indicado ao Grammy Awards na categoria traditional folk, em 1991. “Por causa de um disco de forró, estávamos na festa de premiação dando de cara com nomes como Natalie Cole, Keith Richards (Rolling Stones), Aerosmith, Billy Idol, Quincy Jones...”, relembra Zé da Flauta. O êxito da empreitada também acabou rendendo uma edição nacional do cd e um novo disco de forró: Pé de Serra Forró Band.



  Dance music from the countryside - Pé de Serra Forró Band (1992) – Com o sucesso do “Music for maids and taxi drivers”, Zé da Flauta foi procurado por Tiago de Oliveira Pinto (brasileiro radicado na Alemanha), do Departamento Latino-Americano da Haus Der Kulturen Der Welt (Casa das Culturas do Mundo), de Berlim, para fazer um disco semelhante, a ser lançado na Alemanha. O produtor reuniu, então, Duda da Passira (acordeon), Heleno dos 8 Baixos (fole de 8 baixos), Tavares da Gaita (gaita, reco-reco), Raminho (zabumba, triângulo) e Quartinha (zabumba, triângulo) para formar o Pé de Serra Forró Band. “Eles (Casa das Culturas do Mundo) têm um estudo completo sobre o pífano e possuem todos os ritmos nordestinos escritos em partituras, coisas que nós não temos”, impressiona-se Zé da Flauta. As gravações foram feitas no Recife, em fevereiro de 1992, e o disco lançado na Alemanha pela própria Haus Der Kulturen Der Welt.



  O poeta do povo - João do Vale (1965) - Autor de centenas de músicas, o cantor e compositor maranhense João Batista do Vale teve, no entanto, uma curta discografia. “O poeta do povo”, seu primeiro disco de carreira, foi lançado no Brasil em 1965, com boa aceitação do público e da imprensa especializada. “Nesse LP, João do Vale canta com muita convicção, muita naturalidade e fervor, um punhado de composições suas, acompanhado por um bom violão e ritmo”, enfatizou o crítico L. P. Braconnot¹, à época do lançamento. Apesar da qualidade, a obra nunca foi editada em cd no nosso país. Em 2014, no entanto, pelo selo Doxy Music, o LP ganhou uma reedição na Europa em que, junto com o bolachão, vem uma versão em compact-disc. Entre as faixas, clássicos como “Carcará” (João do Vale/José Cândido), “Pisa na fulô” (João do Vale/Ernesto Pires/Silveira Jr.), “A voz do povo” (João do Vale/Luiz Vieira” e “Peba na pimenta” (João do Vale/José Batista/Adelino Rivera).




 Domingo Menino Dominguinhos – Dominguinhos (1976) – Contando com um time de primeira ao seu lado, formado, entre outros, por Wagner Tiso (piano elétrico), Gilberto Gil (violão), Toninho Horta (guitarra), Moacyr Albuquerque (baixo) e Jackson do Pandeiro e seus irmãos Tinda e Cícero (percussão), Dominguinhos gravou, em 1976, um dos grandes discos de sua brilhante carreira. Misturando jazz aos ritmos tradicionais da música nordestina, o acordeonista pernambucano imprimiu a sensibilidade marcante do seu instrumento em cada faixa do álbum, deixando-o mais com cara de mpb do que de forró. “Tem que tocar pra fora, com alegria, com prazer, senão, mando todo mundo embora. O Wagner Tiso e o Toninho Horta, acostumados a tocar com o Milton Nascimento, de vez em quando começavam a entortar, a fazer aquele som fechado, de lata velha. Mas aí, eu explicava que meu som é diferente, e como eles são flexíveis, compreendiam”, declarou um exigente Dominguinhos². A incorporação do jazz e outros elementos em sua música também gerou a incompreensão de alguns críticos, como o jornalista José Ramos Tinhorão, que, à época, teceu pesados comentários sobre o disco³. A edição em cd do disco permanece inédita no Brasil, tendo sido lançada somente no Japão, em 2015. No repertório, quase todas as faixas são de autoria do próprio Dominguinhos e de Anastácia, com exceção para “Gracioso”, do flautista Altamiro Carrilho.



   Samba Nouvelle Vague – Sivuca (1961/1962) – Embora este não seja um disco de forró, não poderia faltar na relação, principalmente pela importância do autor para a música nordestina. Foi durante o período em que residiu na França, que Severino Dias de Oliveira, o Sivuca, paraibano de Itabaiana, gravou os álbuns “Sivuca e os ritmos brasileiros de Silvio Silveira” (1961) e “Samba Nouvelle Vague” (1962), interpretando choros e diversas canções da bossa nova, como “Samba de uma nota só” (Newton Mendonça/Tom Jobim). Nas gravações, que também contaram com outros músicos, Sivuca foi o responsável, além do acordeon, pelos pianos, vocais, arranjos e guitarras (somente no disco de 1962). Em 2005, a Universal Music da França reuniu os dois álbuns em um único cd, com o mesmo título do LP de 1962. Foi disponibilizado na Europa e ainda é possível encontrá-lo com certa facilidade em lojas estrangeiras na internet.


     Richard Galliano au Brésil – Vários (2014) – Apesar do título, o cd nada mais é que a trilha sonora do documentário “Paraíba, meu amor”, do diretor suíço Bernard Robert-Charrue, que se apaixonou pelo forró ao conhecer o ritmo e produziu este filme sobre o gênero, direcionado ao público europeu e lançado em 2008. Nas gravações, o acordeonista francês Richard Galliano passeia, toca pela Paraíba e observa o som de nomes como Dominguinhos, Chico César, Pinto do Acordeon, Aleijadinho de Pombal e Os 3 do Nordeste. O repertório do disco, disponibilizado somente na Europa em 2014, em formato de cd duplo, é composto pelos áudios extraídos exatamente dos números musicais do filme.


    Forró Acústico – Accordéon du Nordeste du Brésil, volumes 1 e 2  – Vários (2007/2008) – Em 2006, o produtor belga Damien Chemin, então residente em Sergipe, idealizou um projeto de pesquisa de artistas do forró, principalmente naquele estado e em Alagoas, que resultou na coletânea “Forró Acústico – Accordéon du Nordeste du Brésil”, lançada em dois volumes pelo selo francês Cinq Planètes. As gravações, que foram realizadas nas próprias casas e bairros dos músicos, fora dos padrões convencionais de estúdio, traziam nomes pouco conhecidos em outras regiões como Olivan do Acordeon, Cachoeira, Bodocó e Batista do Acordeon, ao lado de músicos de maior destaque como os irmãos Mestrinho e Erivaldinho, filhos do também forrozeiro Erivaldo de Carira. Os discos circularam pela Europa e Japão, tiveram boas vendas e ganharam destaque na imprensa internacional, como a revista francesa Mondomix.








  Forró do Baú – Cobra Verde (2009) – Admirado com o talento do sanfoneiro sergipano Soenildo Santos Mendonça, ou simplesmente Cobra Verde (também participante da coletânea “Forró Acústico – Accordéon du Nordeste du Brésil”), o diretor do selo Cinq Planètes, Philippe Krümm, famoso na Europa pelo seu conhecimento sobre o acordeon, pediu que Damien Chemin produzisse um disco solo de Cobra Verde para seu selo. O cd foi gravado em Aracaju, em 2009, mas foi lançado na França e distribuído na Europa, EUA e Japão pela L'autre Distribution. Com embalagem caprichada, trazendo livreto com várias fotos em 28 páginas, o álbum apresenta cinco execuções instrumentais e diversos convidados nos vocais nas outras faixas, como o cantor, repentista e instrumentista Genovitor, a falecida cantora Clemilda e o baiano Adelmário Coelho, que interpreta “Carreiro Novo”, de Jacinto Silva. "Chamamos diversos artistas e amigos para participar do cd. Todos gostaram da ideia de participar do primeiro trabalho solo de Cobra Verde, que é muito respeitado em Sergipe", afirma Chemin. Bem recebido pela crítica europeia, o disco impulsionou o músico em uma pequena turnê pela França e Bélgica, além de participação em um festival de música popular na Argentina.

A Festa - Luiz Gonzaga (1981) - Lançado em abril de 1981 e recebido pela crítica com certa discrição, o 39º LP do Rei do Baião trouxe regravações de clássicos como "Paraíba" (Humberto Teixeira/Luiz Gonzaga) - canção criada inicialmente como um jingle para a campanha política de José Américo de Almeida, na Paraíba - e "Cacimba Nova" (José Marcolino), ao lado de outras músicas que, embora não tenham se tornado emblemáticas, deram brilho à continuidade do consistente e autêntico repertório de Luiz Gonzaga. O álbum registra também diversos convidados especiais: Emilinha Borba, Gonzaguinha, Nelson Valença, Dominguinhos, Zé Marcolino e Milton Nascimento. Sobre este último, que participa da faixa "Luar do Sertão" (Catulo da Paixão Cearense), Gonzaga relatou: "O contato com Milton Nascimento foi simples. Nós nem ensaiamos, todo mundo sabe cantar essa música. Só tive cuidado em afinar com ele, porque ele tem uma extensão de voz muito grande (...). Ele é uma figura interessante, fala pouco, muito pouco"5. Embora o disco tenha sido disponibilizado neste ano em plataformas digitais, a edição em cd permanece inédita no Brasil, tendo sido lançada no Japão, em 1995, pela BMG Ariola. Raríssima, a mídia em compact-disc é oferecida atualmente pela bagatela de quase mil reais no site do Mercado Livre.

Referências:

1. Braconnot, L.P. Coluna Discos, Tribuna da Imprensa, 25 de outubro de 1965.
2. Souza, Tárik de. Coluna Acontece, Jornal do Brasil, 1º de agosto de 1976.
3. Tinhorão, J. R. "O sanfoneiro que subiu para cair", Jornal do Brasil, 16 de agosto de 1976.
4. http://blogs.mondomix.com/accordeon.php/2010/09/25/forro-la-musique-des-cacheros-du-nordest.
5. Dreyfus, Dominique. Vida do viajante: a saga de Luiz Gonzaga. Editora 34, 1996, 1ª edição.